domingo, 25 de janeiro de 2009

DAILOR VARELA entrevista EDU PLANCHÊZ




“Artista revela novas idéias para a cultura"
O artista EDU PLANCHÊZ, poeta, multimídia e agitador cultural, numa polêmica entrevista ao editor do VALE VIVO Dailor Varela, revela novas idéias para agitar a vida cultural de São José dos Campos. Edu Planchêz é artista do seu tempo e trabalha com várias visões do cotidiano, seja com recitais em pracinhas públicas, fazendo vídeo, teatro, música e outras experiências. Edu parece concordar com Ezra Pound, que dizia "a arte é uma coisa viva"


Nosso bate-papo de hoje é com o poeta "marginal" EDU PLANCHÊZ, o gênio da raça dos poetas alternativos.


Dailor Varela-

O poeta é um marginal?

Edu Planchêz-

O poeta é um homem profundamente comum. Incomuns são meus poemas que sempre propõem mergulhos no inesperado. O poeta nunca foi, e nunca será um marginal. Marginal é aquele que nega por pura indigência cultural o poeta que existe dentro de si. Marginal é aquele que está entorpecido de cultura inútil e vive preocupado exclusivamente com as aparências. Creio que tais criaturas, por pura falta de esclarecimento, se anulam & acabam anulando outros & outros & outros; aí eu entro, aí entra você, entra o Mabelle, o Gustavo Terra, o Irael, o Jim Morrison & o Gilberto Gil. Aí entra meu BUDA interior armado com o espírito do Romário. Aí eu afirmo que sou marginal, o maior de todos os marginais & grito: Renascença! Com as maiores letras possíveis. A Renascença não cristalizou-se em Michelângelo ou Miguel de Cervantes & nem tão pouco se encerrará em mim. Não tenho olhos para olhar para o Brasil que está aí fora & sim para o Brasil que posso retirar de dentro de mim, se todos agirem assim, infalivelmente haverá no presente um futuro dourado entalhado por nossos talentos. Estou farto de covardes! Daqui posso ouvir as vaias dos acomodados: vergonha é ser aplaudido pelos medíocres. A Renascença do espírito humano declara revolução! Viva o homem! Viva a nova flor que brota dessa lama humana. "Erga-se & vá à luta!" Nas palavras de Bob-Marley-Dylan-Tomas arranco o sangue da maravilhosa primavera. Não quero andar à margem do ritmo da música que move todo o universo.



Dailor Varela-


Como andou longe da cidade, quando voltou, sentiu alguma diferença na vida cultural da cidade? Para pior? Ou para melhor?

Edu Planchêz-

E muita coisa evoluiu aqui em "FLORENÇA", Beatriz não é mais a mesma, Joca Costa já não está entre os mortais, mas torno a repetir que muita coisa evoluiu: Rubens Spírito Santo montou seu ateliê e vive gravurando regado a chimarrão. Alguns novos bares, outros violeiros, outros poetas, aquelas menininhas, tornaram-se meninonas: Taí, essa cidade "tá" cheia de mulheres lindas, mulher é cultura. O teatro amadureceu, muitos atores fantásticos circulando pelos anéis da Fundação Cultural. Gente mexendo com vídeo & cinema, tendo total apoio do cineasta Diogo. O Cineclube a todo vapor exibindo coisa de fino gosto & outras nem tanto. Conheci o Rocker Edson & sua Banda Revolução Psicológica; gostei tanto que resolvi dar uma força na produção deles. Violas caipiras: Brás Cândido & outros. Professor Ivo, fazendo um belo trabalho com argila & outras matérias maleáveis. Oficinas & mais oficinas de arte pelos bairros, via Fundação Cultural, dando chance a muita gente de se descobrir. Márcio, Celso Pã, Cuca & outras gentes ensinando esse povo a domar o violão. É, realmente... A Fundação Cultural Cassiano Ricardo é uma realidade, discordo plenamente da idéia que exista uma cultura oficial & uma alternativa. As pessoas lutam tanto para conseguir as coisas, quando conseguem negam o que conseguiram & entram em conflito, movidos por suas maldades interiores; aí a voz do individualismo fala mais alto, pronto, começa-se a achar defeito em tudo: "A Fundação é isso, é aquilo"... Com certeza, encontramos infinitos defeitos mas quem tem Alma-de-Leão aceita o desafio & vai além do pessoal gira & transforma, cria novas possibilidades cristalinamente no humano. São José dos Campos vive uma intensa Revolução Humana (Cultural). Renascença do espírito humano no Vale do Paraíba, no Vale da vida a arte tem o tesão de arrancar a miséria de nossos espíritos.
Obs.: Sei que faltaram coisas & pessoas para citar, mas quis dar apenas uma pequena idéia do que está sendo o meu reencontro com a donzela São José dos Campos.


Dailor Varela-

Qual sua grande fonte de inspiração?

Edu Planchêz-

Eu, Antônio Eduardo Planchêz de Carvalho, sou a minha adorada inspiração, você o é também, sou um homem do meu tempo, do meu bairro, da minha rua, presto atenção em tudo que acontece dentro & fora do meu curioso ser. "Sin-to-ni-a", é a partícula mais importante num poeta-cantor (por que não dizer em todas as criaturas?), me sinto sintonizado com as luzes & as trevas das coisas, tenho mãos & olhos em todos os países & cidades, durmo nesta cama, mas moro no infinito, considero-me íntimo de qualquer criatura. Minha doce mãe, meu velho pai, meus irmãos, meu pequenino filho, minha avó Geninha, minha companheira, meus animais, plantas, namoradas & amigos... Vivo para as pessoas, vivo porque viver é o máximo: "Mais vale um dia a mais de vida do que toda a fortuna do universo". Adoro ser uma pessoa extremamente pública, como diz o príncipe Jorge Luis Borges: "Eu sou a caneta do mundo, a voz que atravessa os campos de batalha para ninar os homens". Denguiô (O Grande) lamentou profundamente por não poder nascer nessa época tão rica de motivos para lutar. Magnífico viver agora nesse Brasil tão talentoso, de pessoas tão fortes. A miséria maior não reside nas ruas & sim dentro de nós mesmos. Afirma meu mestre Nitiren Daishonin "que o que está fora é reflexo do que está dentro". De repente aquele cantor do Ira! diz: "Eu vejo flores em você!" Ah, Rá, Rá, Rá, Rá, Rá, Rá, Rá, ã, ã, ã, !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Dailor Varela-

Publicar um livro é muito difícil? Você já tentou? Quais as maiores dificuldades?

Edu Planchêz-

Difícil é se manter íntegro diante de tantos apelos para as facilidades do "se dar bem". Se é difícil publicar um livro, digo que depende exclusivamente da Determinação do Sujeito. Se formos pensar em dificuldades, tudo é difícil; se formos levar em conta o impossível, o que dizer? Se você for bom, não faltará espaço para veicular sua obra. Se não conseguir em São José dos Campos, conseguirá no Rio, na França, no Oriente Médio, no céu ou no inferno. Tudo depende exclusivamente da coragem de quem se propõe a publicar um livro. São tantos os meios, se as editoras não dão abertura, criemos nossas próprias editoras. A iniciativa privada é uma virgem à espera daqueles que se habilitem a desvirginá-la. O Poeta não precisa de paternalismo, ele é o seu próprio pai-mãe, aliás, ninguém precisa de tal coisa, essa é a forma mais arcaica de pensar. Temos que rasgar para sempre essa idéia de que somos coitados-habitantes-do-terceiro-mundo. Um poeta que não tenha espírito de Guerreiro não é poeta. Um poeta que não lê, que não tem consciência financeira, que não admite ser criticado, deveria desistir, pois ser Poeta implica em muito mais que ser um mero escrivinhador-de-versinhos-romantiquinhos ou
reclamatórios. Se você não for para cama com Allen Ginsberg nunca perderá o cabaço mental, se você não ousar, ir além, além, muito além dos jardins-de-sua-casa, é inútil querer parir um livro.
"Os artistas deveriam determinar realizações de trabalhos que entrassem para a história da cultura do País".


Dailor Varela-


Quais os poetas que fazem a sua cabeça?

Edu Planchêz-

Caríssimo Dailor Varela, isso é pergunta que se faça??? Já que é assim, então vai: - "Animais" de São José dos Campos e de todo planeta, com profundo orgulho, vos apresento os meus Neurônios: Allen-Allen Ginsberg (Meu adorado neurônio cor-de-rosa), Manoel de Barros, Murilo Mendes, Torquato Neto, O Katito Caetano Vitorioso, Meu super Irael Luziano, Ana Cristina César, Bob Marley, Dylan Tomas, Jim-Lagarto-Morrison (Antes & Depois dele), Pedro Sumaia (Quem conhece esse bailarino?), Lara (Aqui de São José), Rubens de Almeida (Amigão, poeta fantástico ganhador do primeiro concurso nacional de poesias do Circo Voador - Rio de Janeiro), Tanússi Cardoso, Maurício Salles (Outro poeta genial lá do Rio, também), Djavan, Elizabeth Souza (Aqui de São José), Cazuza, Renato Russo, Mark Strand, Otávio Paz, Tagore (da Índia), Manoelzinho Bandeira, Jack Kerouac, Jack London, Valente Júnior (da Bahia), Flávio Nascimento (da Paraíba), Luiz Melodia, Bob Dylan, Rosa Kapila (Mãe de meu filho e ótima contista), Clarice Lispector, Vladimir Maiakowsky, Sidimil, Paulo Coelho & Cia, Mano Melo, Zé Celso, Mautner, Violeta Parra, Suzana Vargas (Rio), Daisaku Ikeda, Edna Laranja, Dante, Mauróis, Salvador Dalí (Todos os pintores juntos, não passam de uma unha do "velho" Salvador Dalí), Glauber Rocha (Cresce beleza em tudo que beijei com o ventre da música), Godard (O que dizer dessa alma oceânica?), Rimbaud (Meu menino absurdo menino), Alceu Valença, Tom Jobim, Jossei Toda, Miguel Servt, Neil Young ("Quando os sonhos vão tombando feito árvores/ Eu não sei o que o amor pode fazer"), Eric Clapton, Tom Zé, Chico Buarque, Mercedes Sosa, Garcia Lorca, Gil, Fernandinho Pessoa, Caio Fernando Abreu, Osvald de Andrade & outros & outras & outras & outros....


Dailor Varela-

A poesia é necessária?

Edu Planchêz-

"O poema é o caracol onde ressoa a música do mundo" (Otávio Paz). A poesia é a trança que liga esse mundo concreto ao mundo mágico aparentemente invisível. A poesia traz o homem de volta para ele mesmo, ou seja, esse homem que corre aturdido pelas ruas desse final de milênio está sendo chamado, a voz das florestas antigas saltitam nos versos que plasmo. Desfolho as pétalas das flores de meus-teus cabelos sobre teu corpo manchado por talões de cheques. Se as pessoas soubessem do conhecimento que é oferecido através da poesia! Poucos são os poetas; o homem, para ser poeta, precisa sangrar o tempo todo. Se queres os seios da poesia tens que abrir lentamente os livros de pedra com a ponta da língua. Tu podes montar graficamente tetralhões de supostos poemas, mas se não fores despojado, disposto às últimas conseqüências da paixão, jamais, jamais, tocará no meu sexo, a poesia. Entendo por poesia algo assim mais vivo que o sol. Pobre de ti se ousares viver árido de poesia. Nunca terás uma boa digestão se não te alimentares com o sumo da poesia absoluta que as flores te oferecem agora.


Dailor Varela-

O que é ser poeta para você?

Edu Planchêz-

Transcrevo aqui, dizeres do Pássaro Reinaldo do Sá: "Para ser poeta, é necessário suar tanto quanto um cavador de valetas, daqueles que encurvam as costas no sobe-e-desce da picareta, centenas de vezes por dia..." A princípio só posso falar da minha experiência. Deixe-me pensar... Na antigüidade, os poetas eram mais importantes que os faraós... (Acho que "tô" enrolando!!!). Será que tenho consciência do significado de que é ser um poeta? Vivo no tempo dos homens mas, na verdade, trago comigo o tempo das águias & das borboletas; ser poeta para mim é ser guardião do belo. "Os artistas, como os sábios, possuem os olhos do Buda - Se não forem os do Budha, pelo menos os do Bodhisattva - Com a condição de que eles não se limitem a satisfazer a inteligência ou a sede de criação desses sábios e desses artistas mas que procurem, realmente, livrar os homens de sua miséria e de suas ilusões" (Daisaku Ikeda é o autor dessas últimas palavras que tomo como minhas).


Dailor Varela-

O que você fez, por onde andou?

Edu Planchêz-

Fiz, faço, andei & ando. Estive em lugares, muitos lugares, em muitas pessoas, casei & descasei muitas vezes. Pari tantos poemas, mas tantos, que não caberiam aqui nesta sala. Se uníssemos todos os nutritivos versos que fiz, poderíamos com absoluta certeza darmos muitas voltas entre a Terra & o Pai Sol; creio que nem Camões escreveu tanto assim. Durante esses últimos 14 anos, vesti-me de homem-experimento-cavalo-da-poesia-real. Meu quartel general, o Rio de Janeiro, mais precisamente em Santa Tereza. Com a ponta do compasso fincada na cidade-mar pude evoluir & desafiar-me à vontade, muito Sol-posto 9-Ipanema-Barra-da-Tijuca. Participação em muitos grupos-teatrais-poéticos:
“Gang Pornô”, “Passa na praça que a poesia te abraça”, “Celebração ao Renascimento da Poesia” & outros. Montei & escrevi algumas peças teatrais. Muitas experiências com a poesia. Se publiquei alguma coisa? Sim, em revista & jornais literários, libretos confeccionados & vendidos por mim mesmo.
Os recitais sempre foram o meu forte, tanto que os levei para a música, fundei uma Banda (As Chaves), onde assumi o posto de vocalista, minha poesia caía como luva nos acordes das guitarras & dos violões. Nossos shows eram uma espécie de recital-ritual-teatral com passagens por uma infindável gama de ritmos, a música do Oriente se misturava ao reggae da baixada fluminense, o Rock inglês assumia o papel da chuva & ia inundando as almas dos presentes, que eram dezenas, centenas & até mesmo milhares. Conheci aos olhos do meu Deus & os chifres do meu cramulhão, o sexo & o veneno, a paz do gênio & a miséria dos loucos. Ouviste falar do caos, meu nobre Dailor? A grande noite da alma existe, eu a encontrei no apogeu de meus limites. Sobrevivemos: São José dos Campos, estou de volta!!!!

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