segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

AGORA QUE ELA CANTA



Antônio Eduardo Planchêz de Carvalho
um homem do passado no dia de hoje
Uma tristeza tão longínqua respira arcada
em minhas janelas humanas

Na divisa da tarde ruiva com a noite relva,
no pêlo de um lobo, pantera, mocho e corvo

Trago o fígado da tarde-noite
para ser tratado pela água dos meus olhos

"O rio de Piracicaba vai jogar ‘almas’ pra fora"

Delírios de um ano inteiro
para um vivente dos temporais inusitados

Gostaria de saber escrever bem melhor
Gostaria de anoitecer agora, agora que ela canta

Primeira luz trazida
pelas lontras das chuvas eternas

Resta-me ser um único hemisfério
Pelo azul eu sou o meridional
Pelo canto do uirapuru esqueço
tudo o que disse anteriormente
e me oculto na floresta
Através dos vãos das folhas pardas
avisto luas-planetas- astros-estranhos
Construo poemas gigantes com os pés

Fôlego, é o que mais tenho
Meu fôlego de flores cobre todo o Brasil
nas penas de mil bandos de papagaios,
araras e bicos-de-lacre

Lágrimas de pedra precipitam-se
das dezenas de ossos que tenho:
olhos nos ossos,
nas unhas e nos cabelos do sexo

Peruca das árvores cobertas do orvalho
Antônio Eduardo, pai e mãe de todos os cachorros

Cipó-chumbo brotando dos botões do micro-systen
Nos resta um contrabaixo acústico cosendo
a fartura rítimica das últimas milhares de semanas

As bocas de mil Budas se abrem,
escorrem estrelas e o que não sei definir

Pássaros do breu, filhos de Allen Ginsberg
e Florbela Espanca

Minhas vistas violetas amam a gelatina
dos versos clitóris de Ana Cristina Cesar

A luminosidade da minha poesia
é um antídoto ao avanço neo-conservador
A luminosidade da tua poesia é um antídoto
ao avanço neo-conservador

Chamar Allen Ginsberg de senhor é sacanagem

A boa música é negada às pessoas
O Brasil “exporta” os seus melhores talentos
e os nega para o seu próprio povo
E nos impõe uma ditadura mental

Ninguém conseguirá deter
o grande renascimento da poesia
Ninguém, nenhum demônio careta
conseguirá deter o renascimento
do verdadeiro espírito humano

Que se dane que os "Marrecos da latrina"
venderam dois milhões de cópias,
o Brasil tem 150 milhões de habitantes,
não somos obrigados a engolir
esse e outros lixos oportunistas

Mediocridade se opondo à eternidade
Se esses aproveitadores
olharem para o sol (interno)
conhecerão a cegueira de suas pobrezas
E quem é que precisa de lixo?

Determino o renascimento do homem total
Homem, homem, nem um pouco Deus e sim homem,
profundamente integrado
ao movimento do planeta,
a partir do movimento de sua comunidade,
das pessoas que ali vivem

"É chegada a hora de reeducação de alguém,
do pai, do filho, do espírito santo, amém!"

Aquele que luta apenas
em prol de seu próprio benefício
está terrivelmente errado,
esse não é o movimento do universo,
essa não é a corrente do grande oceano vivo
Você, que se calou por pura conveniência,
deveria cortar literalmente a língua
e jogar aos porcos

Dinheiro, poder, posição, jogos de interesses:
que pobreza!

Os homens esqueceram que são pássaros

Tire seu velho sapato
antes que seja tarde
e pise o ventre de Mãe Terra

Dancemos voltados para a África,
para a Índia, para a Serra da Mantiqueira,
para extremo sul dos Andes

Rebolemos recitando os versos
de todos os poetas brasileiros

Nordeste
Sul
Centro-Oeste
Norte
Sudeste

Ali está a estrela Dalva
e as estrelas das constelações
Ursa Maior e Ursa Menor

Que tal um "Frevo rasgado"?
"OLHE BEM NOS MEUS OLHOS/OLHE BEM PARA VOCÊ/
O FATO É QUE/ A GENTE PERDEU TODA AQUELA MAGIA (...)"
(Oswaldo Montenegro)

25 de dezembro de 1995
Parque Novo Horizonte-São José dos Campos-SP

(edu planchêz)

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